SUICÍDIO: O ÚLTIMO GRITO DA ALMA
- institutopsyche
- 26 de ago. de 2019
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Pra começar nossa conversa pergunto: Quanta dor podemos suportar? De onde vem esse incômodo? Esse sentimento de impotência diante das coisas que acontecem e fazem desmoronar toda esperança? E que esgota nossas forças e o simples ato de respirar parece impossível ou até mesmo o fim da linha, que parece ser o lugar mais seguro enquanto a alma grita por liberdade. Se pensarmos que a dor não vem de fora, mas cresce dentro da gente, feito erva daninha que vai contaminando todas as nossas estruturas e aumentando até quase sufocar, podemos nos perguntar se o que nos fizeram, disseram ou ignoraram, merece esse poder de nos afetar.
Sim, nos afetar feito bola de neve rolando na encosta, vai crescendo, crescendo até virar avalanche, quanto poder damos ao mundo, quanto poder damos às outras pessoas para nos atirar no vazio do afeto, no isolamento das sensações de alegria, no abandono de nós mesmos. O que parece então a grande sacada, nada mais é do que o desejo de transgredir, de gritar e de implodir. A voz não sai, mas o pensamento é tão ágil em sugerir o fim, que ondas de calor e frio tomam conta do corpo: Eis a solução!
Muitos de nós prefere escolher o isolamento, o silêncio e morar na dor até onde não dá para imaginar, a dor também é doce porque nos acolhe em seus braços delicados e vai devagarinho apertando, apertando. Ela vai dominando os espaços e esgotando toda resistência até nos sentirmos vítima e agressor ao mesmo tempo. E somos! Porque estamos permitindo que o mundo nos determine! Estamos permitindo que a tristeza tome conta das nossas fibras mais íntimas, estamos nos abandonando nos braços delicados da morte. Esquecemos de um detalhe pequeno, mas de grande importância: quando nascemos nesse mundo, estamos fadados a morrer um pouco a cada dia, é a natureza mesma da vida! E a vida escapa por mais que tentemos agarra-la feito água que escorre nas mãos.
Assim se instala o pensamento suicida, essa palavra é tão forte e sombria, mas intensa e de tamanho, que causa espanto e admiração, medo e desejo, tudo ao mesmo tempo. Vamos então, procurar compreender um pouco mais sobre os seus significados. O suicídio não é algo novo, ou recente que apareceu na sociedade, ao contrário, existem relatos desde a antiguidade. O termo surgiu no século XVII, formado pelo pronome sui (si) e pelo verbo caedere (matar), conectando com a atualidade, vemos que o suicídio está entre as três principais causas de morte de pessoas que têm de 15 a 44 anos de idade. Segundo os registros da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é responsável por um milhão de óbitos a cada ano (o que corresponde a 1,4% do total de mortes).
Os números assustam, mas devemos lembrar que esses dados são falhos, pois existe também o sub-registro e a subnotificação de que se esconde sob outras denominações de causa de morte, como, por exemplo, acidente automobilístico, afogamento, envenenamento acidental e “morte de causa indeterminada”.
Os fatores de riscos considerados como mais relevantes em relação ao comportamento suicida são: transtornos mentais- cujos estão presentes em mais de 90% dos que cometem o suicídio; antecedentes familiares; idade; sexo; relações sociais-familiares; excesso no uso de substâncias; alterações físicas- principalmente as que causam invalidez, dores crônicas; e situações sociais desfavoráveis - como o desemprego.
Além dos fatores acima mencionados, existem os problemas a nível psíquico, como por exemplo a ansiedade, o estresse, sentimentos de desesperança e solidão, impulsividade, transtornos de humor, transtorno afetivos e de personalidade, sofrimento intenso, frustrações, baixa autoestima, esquizofrenia, e quase todas as psicopatologias em geral, que tem grande potencial de agravar a situação.
Dessas psicopatologias destaca-se a depressão, a qual é apontada atualmente como a quarta doença mais prevalente em todo o mundo, a Organização Mundial de Saúde estima que a doença afete 121 milhões de pessoas, e espera-se que 5 a 10% da população mundial sofrerão ao menos um episódio de depressão ao longo da vida, além de afirmar que as mulheres apresentam chances maiores de deprimir (10 a 20%) do que os homens (5 a 12%). E infelizmente cerca de 15% dos deprimidos graves se suicidam.
Contudo, cientificamente é comprovado que pessoas que são religiosas e exercitam sua fé tem menos chances de cometer o ato, e o índice de cristãos que cometem suicídio é muito inferior aos que não são, e não se apoiam na fé. É como se a busca a Deus fosse um fator protetor ao suicídio, e o sociólogo Émile Durkheim (1858-1917), demonstrou que o suicídio é a expressão mais grave de fracasso de uma comunidade e que raramente pode ser explicado por uma razão única.
O que seria o fracasso de uma comunidade? O ser humano é um ser social e se torna humano enquanto convive e troca experiências com os demais. Mas as experiências são muitas e algumas delas vão deixando marcas, ou dão o “start” de uma doença ainda sem sintomas observados. Mas apesar disso a ciência evolui e com ela os recursos para detectar e diagnosticar possíveis moléstias que afetam a consciência a alma e o comportamento. Então o fracasso da comunidade pode ser apontado como uma falha do olhar, da percepção de que o outro sofre e adoece, assim como da indiferença para com a dor do semelhante.
O sintoma do suicídio não é um sinal de fracasso, mas um grito de ajuda que não foi ouvido, porque pode ser entendido como frescura, para chamar atenção, que a ansiedade é falta do que fazer. Não é bem assim, quando ouvimos alguém dizer que uma pessoa morreu de desgosto, o desgosto, a angústia, a tristeza, o isolamento, na verdade fazem parte de sintomas que caracterizam uma doença chamada depressão, ainda desconhecida na década de 1970 e 1980, mas de certa forma comum nos dias atuais, quando não tratada pode culminar com o ápice dos efeitos. O suicídio não é um ato repentino, em grande parte dos casos, mas um processo que inicia com sintomas distintos, os sinais precisam ser conhecidos para que estejamos atentos em buscar auxílio antes que os sintomas levem a agravantes, a comunidade deve oferecer apoio a indivíduos e familiares, acolher, ser empático com a dor do outro. Fazendo isso, podemos evitar outros possíveis casos de suicídio.
Dr Rodrigo Assumção
crm 19222
